Alsácia – um pedaço da Alemanha na França.

Estivemos na Alsácia em Outubro de 2014. A inclusão dessa região no roteiro não foi uma coisa programada. O nosso plano inicial era de chegada por Amsterdã e saída por Zurique, passando pela Bélgica. Como o trajeto entre a Bélgica e a Suiça é longo, uma parada em alguma região da França seria providencial. E aí surgiu a idéia de explorar a Alsácia e seus vinhos brancos.

No nordeste francês, fronteira com a Alemanha, fica a Alsácia, região tão conhecida por sua cultura de forte influência germânica. Esse pedaço da França sempre foi alvo de disputas entre os dois países, passando de uma mão para outra diversas vezes na história. Os períodos de domínio alemão ficaram bem marcados na cultura local. Interessante é notar como o povo é diferente ali em relação ao restante da França – como me disse Philippe Blanck (um dos ótimos vinhateiros locais), o alsaciano é bem peculiar, um povo que pensa em alemão e se comunica em francês.

Ficamos um total de 3 noites na região, período suficiente para conhecer as principais cidades e visitar ótimas vinícolas. Ao norte da Alsácia fica a principal cidade da região – Estrasburgo, uma das capitais da União Européia. De lá a Colmar (a segunda maior da região), no extremo sul tem-se pouco mais de 70 km de lindas paisagens e vilas encantadoras para se visitar. As mais belas vilas ficam no entorno de Colmar, e é ali naquela microrregião que ficam os melhores produtores de vinho. Plantações de Riesling, Gewurtztraminer (o orgulho local) e Pinot Gris tomam conta da paisagem. Para os apaixonados pelos prazeres do vinho e da boa mesa, explorar a região é um deleite. Trajetos mais curtos que 10 km separam as vilas, com suas casas floridas, ótimos restaurantes e vinhos de excelência.

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Vinhedo em Riquewihr

Com o objetivo de focar nosso tempo disponível principalmente na exploração das vilas e seus vinhedos, optamos por uma noite em Estrasburgo e duas em Riquewihr. Estrasburgo até merece mais de uma noite, já que além de muito bonita, oferece excelentes opções de restaurantes e cafés. Mas por ter um centro histórico pequeno, um dia inteiro foi suficiente para conhecer todos seus atrativos.

Estrasburgo é uma cidade muito agradável de se conhecer a pé. Plana e sempre movimentada, é muito convidativa para uma caminhada descompromissada por suas ruas e becos. Os destaques são a imponente catedral Notre Dame de Strasbourg e o Le Petite France, uma região com belos canais e ótimos restaurantes. Almoçamos por ali mesmo, no La Petite Venise, um restaurante simples e barato, com comida típica da região. O joelho de porco com batatas foi uma boa pedida.

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Catedral de Estrasburgo

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Petite France

Nos hospedamos no Adagio Strasbourg Place Kleber, um espécie de flat, com quartos amplos equipados com mini cozinha. Os quartos são bastante confortáveis e a localização é muito boa. O único inconveniente é que não há cama de verdade e sim um sofá cama. Mas nada desconfortável. Fechamos pelo hotwire e conseguimos por incríveis 70 euros. Há a conveniência de um estacionamento público bem próximo a preços bem justos.

A oferta de restaurantes na cidade é grande, mas vale a pena fazer reserva para o jantar se há a intenção de se sentar em algum lugar específico. À noite, tentamos o “La Table du Gayot”, mas sem reserva, não conseguimos. Acabamos jantando ali perto mesmo, no “Le Cornichon Masque”, atrás da catedral. Serviço ruim (poucos e apressados garçons), mas boa comida. Nossos pedidos: Vitela com purê de batata e risotos de trufas, acompanhado de um Saint Joseph de Gilles Flacher. Tudo muito bom.

Dia seguinte rumamos sentido a Riquewihr, com paradas em Obernai e Selestat. A primeira é uma linda e pequena cidade que se conhece com uma breve caminhada. Selestat tem uma bela catedral, mas fora isso não tem grandes atrativos. Em Riquewihr ficamos no Best Western Hotel Le Schoenenbourg com ótima localização, imediatamente fora da parte murada da cidade. O acesso à vila era facílimo a pé.

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Obernai

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Selestat

Há boas opções de restaurantes na cidade. Jantamos no La Grappe d’Or na primeira noite. Atendimento impecável, ótima carta de vinhos e excelente comida. Destaque para a entrada de variedade de queijos Munster. O Munster é um queijo de massa mole típico da Alsácia. Seu aspecto e consistência se assemelha a de um queijo Brie, mas o sabor é muito mais marcante. É perfeito para harmonização com os vinhos da região. Na última noite, fomos ao L’Arbaletrier. Também especializada na culinária local, tem ambiente informal e caseiro. As atendentes não falavam inglês, mas foram muito solícitas e até se divertiam ao tentar explicar o prato hora em francês, hora em alemão. Comida farta, saborosa e barata. Gostamos muito dos dois restaurantes.

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Seleção de queijos Munster

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Joelho de Porco do La Grape D´Or

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Mignon de Porco do La Grape D´Or

Tendo Riquwihr como base, rodamos por Colmar e os vilarejos próximos: Ribeuvillé (o mais bonito de todos em nossa opinião), Bergheim, Eguisheim (eleito o vilarejo mais bonito da França), Turkheim, Hunawihr e Kientzheim. De lá seguimos nosso trajeto para a Suiça, certos de que incluir a Alsácia no roteiro foi uma ótima escolha.

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Colmar

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Canal em Colmar

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Eguisheim

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Ribeauvillé

Percorremos vários produtores da região com destaque para:

Marcel Deiss – em Bergheim, estava fechado no domingo e tivemos que voltar no dia seguinte. Fomos muito bem atendidos e tivemos uma degustação privada. Sem dúvidas está entre os melhores da região (top 3 na minha opinião). Interessante é que seus vinhos são assemblage, algo incomum na região. Destacaram-se: Engelgarten Premier Cru d’Alsace 2011, Grasberg Cru d’Alsace 2009 e Vendages Tardives Riesling 2009. Seus vinhos são mais caros que a média da região (entre 30 e 40 euros por garrafa), mas a qualidade justifica o maior gasto. Dali levei 5 garrafas.

Domaine Zind-Humbrecht – mais um dos grandes nomes da Alsácia, com vinhos espetaculares. As visitas e degustações só acontecem com hora marcada. Tivemos um tour pela vinícola e degustação juntamente com outro casal de brasileiros. A vinícola fica um pouco mais afastada, em Turkheim, e tem acesso difícil. O endereço, quando digitado no GPS, não corresponde à localização da propriedade. Melhor seguir as orientações que eles mesmos enviam por email. Destaque para os Gewurztraminer produzidos ali. Produtor mais caro da Alsácia, mas também justificado pela alta qualidade. Comprei 6 garrafas.

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Entrada do Domaine

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Tóneis da Zind Humbrecht
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Degustando grandes vinhos

Domaine Paul Blanck – melhor custo benefício da região. Foi nessa visita que tivemos a melhor experiência da viagem. Chegamos a Kientzheim num domingo e cidade estava bem vazia. Fomos ao encontro de Philippe Blanck em sua casa, já que o armazém da vinícola estava fechado. O proprietário Philippe, neto do fundador do domaine, nos dirigiu até a casa onde funciona o armazém e tivemos um encontro maravilhoso, regado aos seus melhores rótulos. Philippe é uma figura e foi muito gentil. Provamos todos os seus vinhos e tivemos uma boa conversa. Ao final disse que se não tivesse já marcado compromisso, teria muito prazer em almoçar conosco. Uma pena que não deu. De lá eu levei 12 garrafas e ele ainda me cedeu outras 2 caixas com isopor para eu transportar as outras garrafas. Seus brancos são maravilhosos e com custo benefício excelente. Me impressionaram os Grand Crus Schlosberg e Furstentum, tanto os Riesling quanto os Gewurztraminer.

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Philippe Blanck e eu. Ele é uma “figura”

Hugel et fils – produtor muito renomado, tem uma loja própria bem no centro de Riquewihr. Os preços são altos, dos mais caros da região. Muito bons vinhos, mas um patamar abaixo de Marcel Deiss e Zind Humbrecht. Gostei muito da linha Jubilee (Riesling e Pinot Gris). Comprei 4 garrafas.

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Maison Trimbach

Maison Trimbach – também dos mais conhecidos, fica na vizinha Ribeauvillé e pratica preços mais altos. Acabei levando só uma garrafa do Seigneurs Ribeaupierre Gewurztraminer 2007.

Dopff au Moulin – mais famoso pelo Crémant d’Alsace, o espumante típico da região. O show room da propriedade fica logo na entrada de Riquewihr. Os vinhos são bons e mais acessíveis. Chamaram a atenção os Grand Crus Schoenenbourg Riesling e Gewurztraminer e o Grand Cru Vourbourg Gewurztraminer. Comprei 8 garrafas.

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Prova de vinhos na Dopff

Louis Sipp – produtor de menos prestígio, fica em Ribeauvillé. Tem vinhos bons e baratos. Gostei do Grand Cru Kirchberg de Ribeauvillé e comprei uma garrafa.

7 comentários

  1. Passei por essa região e não tive uma boa recepção na Marcel Deiss… Tratamento frio, distante e arrogante, mas nada supera a Trimbach no quesito decepção! Gostei muito da Hugel and Fils e da Dopff au Moulin. Pena que não conheci a Domaine Paul Blanck , mas é sempre uma boa desculpa para voltar!

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  2. Belíssimo relato! Só fiquei com uma dúvida, irei a Alsácia daqui a alguns meses e também pretendo trazer muitos vinhos. Como vocês fizeram para trazer tantas garrafas? Como transportaram? Vocês tem alguma mala especial? Pagaram excesso?

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    1. Obrigado Felipe. Sempre trago vinhos em viagens, vale muito a pena. Não tenho malas próprias, trago em caixas que despacho no check in. Há caixas com isopor para proteção. Eu comprei essas caixas no Domaine Paul Blanck.

      Nunca paguei excesso. Em voos intercontinentais a franquia de bagagem é de 2 volumes de 32 kg cada. Considerando que uma caixa de 12 garrafas pesa aproximadamente 16kg, não há muito problemas nesse sentido.

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